ARTIGO: Natal com alegrias e tristezas*

Por Sergio Manzione*
23/12/2019 às 10h00
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Foto: Divulgação
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O Natal é a festa da reunião da família, do prazer de estar com os entes queridos, dos pratos tradicionais, de falar com pessoas distantes, de se aproximar de amigos, da troca de afetos, também simbolizados pelos presentes. O Natal, já há tempo, está muito mais associado à troca de presentes e à figura do Papai Noel do que ao natalício de Jesus Cristo. 
Vive-se hoje pela necessidade de conquistas materiais, o que não dá espaço para a paz de espírito e acaba gerando sofrimento psíquico. O clima é de alegria, confraternização com amigos, colegas de trabalho e familiares, embora para muitos é um período de tristeza, angústia, solidão, rejeição e sentimento de abandono.

Alguns são os motivos para o surgimento de algo que podemos chamar de Depressão de Natal, que culmina no rompimento do ano novo. É um período em que se faz o balanço do ano que finda com suas as conquistas, metas cumpridas ou não, perdas e frustrações. 

Com o final do ano se aproximando pode haver aumento do estresse por motivos profissionais, financeiros, familiares dentre outros. Junta-se a isso as expectativas não realizadas, a pressão social e familiar para sair gastando dinheiro em presentes, a mudança da rotina e até dificuldades para passar as festas com a família por estar trabalhando ou morando em outra cidade. 

No entanto, as lembranças dos natais alegres e a falta de alguém já falecido são os fatores que mais favorecem o surgimento da tristeza e da melancolia nesse período. É bom ressaltar que se a pessoa já estiver triste ou com depressão, os sintomas tendem a se agravar. 

Alguns estudos indicam que o número de suicídios cai no Natal, mas sobe muito na virada para o Ano Novo. Portanto, é preciso ficar atento àqueles que estão mais sensíveis, mais calados, tristes e querendo ficar isolados, pois o momento alegre, da passagem do ano, pode ser muito triste e frustrante para quem se vê fracassado e não tem reais perspectivas para o futuro.

Para reduzir o sofrimento, é necessário diminuir as expectativas que o Natal traz e vê-lo como uma festa normal. Procurar estar com as pessoas positivas e não se isolar ajuda a manter o pensamento também positivo, que deve sempre ser exercitado. É excelente a prática de exercícios físicos,ou mesmo simples passeios,em espaços abertos, ao ar livre e com muita claridade. 

Nos casos de luto recente, pode-se ter uma pequena cerimônia de homenagem a quem já se foi, antes da ceia, por exemplo. Lembrando, ainda, que as crianças não têm nada a ver com a dor dos adultos e estão em uma fase mágica, que precisa ser incentivada e não volta no tempo.

É preciso deixar a tristeza e a saudade fluírem, pois são emoções esperadas. No entanto, também é preciso libertar-se do compromisso de ficar triste como sinal de respeito e amor a quem já se foi. A culpa surge para muitos só por sentirem alegria e prazer, como se isso fosse um insulto à memória de quem partiu. O amor por alguém não é medido nem mesmo pela quantidade de dor e lágrimas. O amor é um sentimento forte, firme, seguro, calmo e, portanto, não inclui sofrimento. 

A saudade pode fazer lembrar que a pessoa amada não está mais ali, mas devemos comemorar quantas alegrias ela possa nos ter dado e seguir em frente em respeito aos que já foram e aos que ficaram.Lembre-se que é sempre importante dizer aos que se sentem tristes ou estão em depressão para procurar ajuda profissional ou, quando a angústia for muito alta, ligar a qualquer hora do dia ou da noite para o Centro de Valorização da Vida (CVV) pelo número 188. Feliz Natal no dia e sempre. 


* Sergio Manzione é psicólogo clínico, administrador, mestre em engenharia da energia e semanalmente fala sobre temas da psicologia na Rádio Câmara e no Portal Muita Informação! @psicomanzione