ARTIGO: Gênero, opção e orientação sexual são a mesma coisa?*

Por Sérgio Manzione*
03/02/2020 às 20h55
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Foto: Divulgação
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Ainda não há consenso sobre qual conjunto de termos será aceito universalmente para designar as pessoas e suas características físicas e subjetivas o que, de fato, gera muita confusão. A algaravia existente não permite esgotar o assunto, mas apenas apresentar de forma rápida, direta e simplificada, um recorte com definições e conceitos básicos.  

Gênero refere-se ao sexo biológico do indivíduo ao nascer e pode ser masculino ou feminino. Há também os hermafroditas, que nascem com a genitália dos dois sexos, mas que são classificados de acordo com a característica sexual predominante. No Brasil, alguns grupos adotam 17 tipos de gêneros e subgêneros. Pelo mundo esse número varia muito e, por vezes, se confunde com a identidade de gênero.

Identidade de gênero refere-se ao gênero com o qual o indivíduo se identifica. Há pessoas do sexo masculino, mas que se percebem como do feminino e vice-versa. Há, ainda, os "não binários", que não se identificam com nenhum gênero ou com ambos.  Cisgênero é a pessoa que se identifica com o mesmo gênero que lhe foi atribuído ao nascer.  De outro lado, o transexual e/ou transgênero é o que se identifica com um gênero diferente do seu de nascença. Estes podem ser transexuais, que se veem nascidos em um corpo errado e vão modifica-lo inclusive com a cirurgia de mudança de sexo. Podem, ainda, ser as travestis, que reconhecem o sexo "de batismo", mas procuram modificar o corpo desde a forma de vestir até a utilização de hormônios sem, necessariamente mudar de sexo. 

O Facebook disponibiliza 52 opções de identidades de gênero para os usuários colocarem em seus perfis e o aplicativo de encontros Tinder tem 37 opções. Desde 2016, a Comissão de Direitos Humanos de Nova Iorque admite 31 identidades de gêneros.

Orientação sexual é a atração física e/ou afetiva que se sente por outra pessoa independentemente do gênero. Se ambas forem de gênero diferentes são heterossexuais ou heteroafetivos. Se forem do mesmo gênero são homossexuais ou homoafetivos.  A pessoa que sente atração/afeto por ambos os gêneros é chamada de bissexual ou biafetiva.  Há, também, os assexuais, que não sentem atração por nenhum gênero, mas ainda se discute a aceitação dessa denominação. Alguns autores também consideram a existência da pansexualidade, quando o indivíduo tem atração pelos dois gêneros e também por animais ou outros seres vivos e objetos inanimados.

Há milênios, as sociedades reprimem e afastam os diferentes, pois o contato com eles é percebido como uma ameaça e leva cada um a refletir sobre sua própria condição humana.  Não é raro, por exemplo, alguém dizer que um homem casado e pai de família "virou" homossexual. Desse equívoco também nasce a ideia de "opção" sexual. Um homem homoafetivo pode estar em um casamento heteroafetivo para se proteger do preconceito social, a despeito de todo incômodo e sofrimento que isso causa. Quando não há mais como reprimir sua identidade e seu desejo, esse homem resolve assumir para todos sua homoafetividade.

Resumindo: o homem do exemplo assume ser homoafetivo (orientação sexual), continua sendo homem (gênero), mas há os que concluem que ele "optou" em ser homoafetivo, o que não é possível.  A única opção feita por ele foi a de assumir sua homoafetividade já existente. Na mesma linha, outra situação muito discutida é o de que se uma criança do sexo masculino for criada como sendo uma menina (ou vice-versa), então ela se "transformará" em homoafetiva. Atribuir fatores comportamentais, educação doméstica, más influências e outras coisas do tipo como indutores da homoafetividade nos parece outro equívoco, pois não há um momento ou fase em que se opta em ser hétero ou homoafetivo(a). Como se trata de assunto controverso, nem todos estão dispostos a mudar suas opiniões para não abalar suas próprias convicções preconceituosas, que os define e mantêm em seus grupos sociais. 

Em qualquer assunto, enquanto prevalece a opinião sem base fundamentada ("achismo") a sociedade não avança, por isso a importância da educação (em todos os sentidos) para afastar os fantasmas da ignorância e da arrogância, mães do preconceito. É fundamental ter em mente que as pessoas de quaisquer gêneros e orientações sexuais são, acima de tudo, seres humanos e devem ter suas individualidades e subjetividades respeitadas. Quando todas as pessoas não mais precisarem dominar, nem subjugar os outros para se sentirem menos inseguras ou para esconder seu "status quo", a empatia será algo comum e todas se ajudarão a construir um mundo melhor. Enquanto isso, que tal construir nosso mundo particular com menos preconceito e mais amor?

*Sergio Manzione é psicólogo clínico, administrador, mestre em engenharia da energia e semanalmente fala sobre comportamento humano e psicologia na Rádio Câmara e no Portal Muita Informação! @psicomanzione