Comunidade judaica sente "necessidade de entrar em alerta máximo", diz presidente da SIB após ataque do Irã em Israel

Ao Portal M!, Rogério Palmeira enfatizou que o clima é de muita apreensão

Por Bruno Brito
21/04/2024 às 15h30
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Foto: Divulgação
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O presidente da Sociedade Israelita da Bahia (SIB), Rogério Palmeira, afirmou em entrevista ao Portal M! que a comunidade judaica sentiu a necessidade de "entrar em alerta máximo", após os ataques de Irã a Israel ocorridos em 13 de abril. Na ocasião, dezenas de drones e mísseis foram enviados pelos iranianos ao território israelense. Conforme Palmeira, a comunidade está bastante "apreensiva" e tem tomados medidas para sua "proteção".

"Após qualquer ameaça de guerra ou ataque terrorista contra judeus em qualquer parte do mundo, a comunidade judaica se sente preocupada, angustiada e também com a necessidade de entrar em alerta máximo. A comunidade judaica está bastante apreensiva, tem tomado todas as medidas para sua proteção, tem reafirmado seu desejo de paz, mas também de autopreservação, e reiterando seu apoio irrestrito ao direito de existência do Estado de Israel, inclusive o direito de se defender para manter a sua própria existência contra qualquer ataque", afirmou.

Outro aspecto que tem levado preocupação aos judeus, de acordo com o presidente da SIB, é o aumento de ataques antissemitas no mundo. "Inclusive no Brasil, o discurso de ódio voltado a judeus cresceu vertiginosamente de 2023 para cá, sobretudo e curiosamente nos dias em que Israel é atacado, o número de ataques verbais e de manifestações antissemitas cresce de maneira desproporcional às manifestações de solidariedade", alertou.

Início do confronto entre os países

A primeira agressão do Irã a Israel aconteceu em 13 de abril - em retalição, segundo o país, ao ataque ao seu consulado na Síria, no dia 1º de abril, atribuído a Israel, que não assumiu a autoria. O ataque à embaixada localizada em Damasco matou sete membros da Guarda Revolucionária Iraniana.

Segundo Rogério, um dos principais pontos envolvendo o embate seria a existência de registros fotográficos mostrando "claramente que a embaixada do Irã está intacta". "O ataque atribuído a Israel, que Israel nunca reconheceu, foi numa instalação militar das guardas revolucionárias do Irã  na Síria, que é, na realidade, um dos centros, um dos focos de instabilidade, porque a partir desta instalação, os grupos terroristas [como o Hamas e o Hezbollah] são abastecidos pelo Irã".

O presidente da SIB também pontuou que a Síria se encontra numa guerra civil em que os opositores do regime de Damasco, que é apoiado pelo Irã, podem ter sido responsáveis pelo ataque.

"Esta situação é muito grave, porque o Irã, na realidade, já vem fazendo ataques sistemáticos ao Estado de Israel através do que a gente chama de proxy wars, que são as guerras por procuração através de seus aliados com os grupos terroristas Hamas e Hezbollah. Uma outra coisa muito curiosa é que o Irã, nos anos 90, atacou a embaixada de Israel em Buenos Aires, na Argentina, e também atacou a maior instituição judaica na Argentina, a AMIA, em 1994, motivo pelo qual, poucos dias antes do ataque maciço que o Irã fez contra o Estado de Israel, a Justiça argentina responsabilizou a República do Irã pelos atos terroristas na Argentina", afirmou.

Escalada do conflito e guerra total no Oriente Médio

Perguntado sobre a possibilidade de escalada do confronto ao ponto de gerar uma guerra total no Oriente Médio, Rogério enfatizou que o ataque promovido pelo Irã poderia ter inflamado, de maneira imediata, toda a região. Ele também chamou a atenção para a participação da Jordânia no combate, que é um país muçulmano árabe da região, e até mesmo a Arábia Saudita.

"Participaram da coalizão de defesa que foi acionada no dia do sábado, e com a participação também dos países da União Europeia, como a Alemanha, Reino Unido e França, além dos Estados Unidos", completou.

Por conta destas participações, o presidente da SIB acredita que existe um pouco de esperança para que as relações comecem a ser mais racionalizadas na região. "Claro que isso aconteceu porque o Irã é um inimigo comum, por ser um fator de grande estabilidade regional, tanto para o regime da Jordânia, quanto para o regime da Arábia Saudita, além do mundo ocidental. O que causa muita surpresa, na realidade, é o grau de apoio que o Irã vem recebendo de outros países e de populações inteiras, já que o regime islâmico teocrático do Irã oprime os próprios iranianos. É um regime não democrático, é um regime que oculta, oprime as mulheres. Então, o Irã é uma ameaça não apenas para a região, mas para o mundo, e é importante que a população iraniana consiga superar isso e derrubar esse regime para um regime democrático. Já que é uma ditadura e no mundo moderno, a gente precisa acreditar e fomentar mais as democracias", enfatizou.

Já sobre a situação em Gaza, em que Israel e o Hamas estão em conflito há cerca de três meses, Rogério ressaltou que o quadro está bem mais "complicado" deste o ataque realizado pelo Irã.

"O gabinete de guerra de Israel definiu por uma resposta ao Irã no momento mais apropriado. A gente não sabe ainda em que proporções e em que grau será esse ataque, ou se esse ataque será sobre bases militares iranianas, ou ataque a grupos como Hezbollah e Hamas. A gente ainda vai precisar observar, mas sempre há uma preocupação quando um estado terrorista, que patrocina o terrorismo como o Irã, faz um ataque sobre o território de um outro país com tão graves proporções".

Comunidade judaica vê posição do governo brasileiro com "surpresa" e "indignação"

Em nota emitida em 13 de abril, após o Irã assumir os ataques contra Israel, o Itamaraty disse que o governo brasileiro acompanhava com "grave preocupação" os "relatos de envio de drones e mísseis do Irã em direção a Israel". A nota continua com o governo brasileiro frisando que "vem alertando sobre o potencial destrutivo do alastramento das hostilidades" no Oriente Médio desde o início do "conflito em curso na Faixa de Gaza", em referência à guerra entre Israel e Hamas.

O posicionamento, no entanto, não foi bem recebido pela comunidade judaica pela falta de "condenação" ao ataque promovido pelos iranianos. 

"A gente recebeu essa nota do Itamaraty com um misto de surpresa e indignação, porque a nota pede moderação dos dois lados. Acontece que um lado estava se defendendo e o outro lado estava agredindo de maneira violenta, baseado em uma informação mentirosa. A gente acha que a resposta do governo brasileiro deveria ter sido uma resposta contundente, como a que o governo tem produzido contra o Estado de Israel, mesmo quando as informações que ele utilizou para emitir aquela condenação não eram verdadeiras", apontou Rogério Palmeira.

Por conta disso, o presidente da SIB defende que o governo brasileiro deve refletir sobre sua opinião. "A opinião do povo brasileiro é rejeição a ditaduras, rejeição a regimes que discriminem as pessoas por sua religião, por sua raça ou por sua opção sexual. E o regime que promove esse tipo de discriminação não é o regime do Estado de Israel e nem é do povo iraniano, mas é o do governo iraniano. E a gente acha que o governo brasileiro deve refletir a opinião e o espírito do povo brasileiro, que é o espírito de paz e conciliação. Então nesse sentido, eu acho que a nota foi bastante frustrante, não apenas para a comunidade judaica, mas por todos aqueles da comunidade brasileira em geral".

Israel realiza ataque contra base militar iraniana

Na última sexta-feira (19), Israel realizou um ataque direto contra o Irã, na província de Isfahan, a cerca de 350 quilômetros da capital Teerã. Há relatos conflitantes sobre a dimensão do ataque à região, assim como sobre a extensão dos danos causados e a mídia estatal iraniana está minimizando sua importância.

Autoridades americanas confirmaram que um míssil israelense atingiu o Irã na madrugada desta sexta. Na avaliação do presidente da SIB, o ataque manda um "claro recado" aos iranianos sobre o poderio israelense.

"Ele sequer conseguiu evitar o ataque, e o ataque foi numa base que tem instalações nucleares, então manda um claro recado aos iranianos: 'não provoquem', porque se vocês não conseguiram repelir um ataque em pequena escala, imagine um ataque em grande escala. E 'nós podemos atingir suas instalações nucleares' é o segundo recado. Então, de certa maneira, esse ataque serve para tentar baixar a temperatura da região, tanto que as autoridades iranianas comunicaram a agência Reuters que não planejam fazer nenhum ataque de retaliação. Vamos esperar que a situação esfrie mais e que a paz possa se restabelecer em breve", concluiu.

 

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