Infectologista aponta riscos da tuberculose e da interrupção do tratamento

Suspensão pode gerar formas da doença resistentes aos medicamentos mais utilizados, explicou Eliana Dias Matos ao Podcast do Portal M!

Por Bruna Ferraz
23/03/2024 às 15h00
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Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

O Dia Mundial de Combate à Tuberculose, neste domingo (24), chama a atenção não apenas dos profissionais e órgãos de saúde em todo o planeta, mas também da população em geral sobre esta doença que, ao contrário do que alguns pensam, não ficou no passado. A tuberculose é uma patologia atual, que tem apresentado números alarmantes.

Segundo a médica infectologista Eliana Dias Matos, doutora em medicina pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), pneumologista do Hospital Cardio Pulmonar e coordenadora da Referência Terciária em Tuberculose do Hospital Especializado Octávio Mangabeira, a doença é um sério problema de saúde pública em todo o mundo.

"São 10,6 milhões de casos diagnosticados a cada ano, com 1,3 milhão de mortes. Oito países preocupam a Organização Mundial de Saúde porque concentram dois terços da carga de tuberculose. Entre eles, Índia, Indonésia, China, Filipinas, Paquistão, Nigéria, Bangladesh e Congo. Os países dos BRICS - Brasil incluído, juntamente com China, Índia, Rússia e África do Sul -  concentram 38% da carga de tuberculose no mundo, com 35% das mortes. O Brasil concentra um terço de todos os casos das Américas. São 80 mil casos diagnosticados a cada ano, com cerca de 5 mil mortes", destalhou a especialista ao Podcast do Portal M!.

Durante a conversa, a infectologista explicou que dentre outros fatores que podem tornar a doença ainda mais grave, está a descontinuidade no tratamento. Muitas pessoas diagnosticadas, ao notarem alguma melhora no quadro, costumam abandonar a terapia indicada pelo médico, o que pode ocasionar no retorno da tuberculose de forma mais agressiva.

"Nós sabemos que o tratamento é longo, tem duração de seis meses, e é importante que o paciente mantenha esse tratamento por esse período, porque a interrupção pode gerar consequências muito nefastas, como emergência de formas de tuberculose resistentes aos medicamentos mais utilizados ultimamente, que são muito potentes. Basta você ver que o paciente que faz o seu tratamento correto tem uma possibilidade de cura de 98%. Então, é importante ressaltar, mesmo que o paciente esteja sem sintomas, que ele mantenha o tratamento até a conclusão total dos seis meses", recomendou a infectologista.

A ideia de que a doença era comum no passado também é outra desinformação, que, segundo Eliana Dias Matos, precisa ser combatida para que haja uma queda nos altos índices atuais. Em todo o mundo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que, em 2022, 7,5 milhões de novos diagnósticos da infecção foram registrados. Este é o dado mais atualizado da enfermidade e é também o maior número contabilizado desde 1995, quando o levantamento começou a ser realizado. 

Ainda numa perspectiva mundial, só em 2022, 1,3 milhão de pessoas morreram em decorrência da tuberculose, que se tornou a segunda infecção mais fatal do planeta, perdendo só para a Covid-19, e contabilizando o dobro de óbitos causados pela Aids.

No Brasil, a tuberculose também é uma realidade atual, principalmente pelo fato de se tratar de uma doença social, muito vinculada à pobreza. Segundo o Ministério da Saúde, em 2021, 5.072 pessoas morreram de tuberculose no País. Esta é a maior taxa desde 2002, com alta de 11% em relação a 2020. O número de diagnósticos também subiu 5,4%, atingindo 74,3 mil em 2021.

Confira o podcast completo:

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